Saúde
Pacientes reclamam de atrasos em cirurgias ortopédicas
Santa Casa promete resolver o problema a partir desta segunda-feira; relatos apontam longas internações à espera de procedimentos
Foto: Divulgação - Hospital promete resolver o problema a partir desta segunda
Por Lucas Kurz
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Nos últimos dias, reclamações sobre a demora em cirurgias traumatológicas ofertadas pela Santa Casa de Misericórdia de Pelotas têm chamado a atenção. Nos relatos, um aspecto em comum: a falta de perspectivas para as operações mesmo para pacientes internados há semanas. Um balanço da última semana obtido pela reportagem mostra que em apenas uma das alas, 23 pessoas aguardavam procedimentos.
Pedindo para não ser identificado, o familiar de um paciente conta que a pessoa está internada há quase um mês com um problema no fêmur, o mesmo da grande maioria dos companheiros de ala. Em documento a que o Diário Popular teve acesso, o local denominado Ala São José estaria com 23 pessoas internadas no último dia 11, com idades entre 15 e 94 anos. Alguns destes pacientes há mais de 40 dias ocupando leitos à espera de cirurgia.
"O problema são as próteses. Falaram que tem que esperar função de pagamentos. A gente não sabe, ninguém fala nada com nada", relata o parente ouvido pelo DP. Segundo ele, durante a busca por respostas quanto à realização dos procedimentos, os familiares estariam sendo informados sobre questões financeiras da instituição, falta de insumos e outros problemas.
Ainda conforme os relatos, há dificuldade das famílias para lidar com os longos prazos de internação, já que os pacientes ficam acompanhados, afetando a rotina de diversas pessoas, sem uma previsão de solução. "É uma situação desesperadora. A gente não aguenta mais", desabafa um familiar. Outro relato obtido pelo Jornal, de um parente de pessoa idosa, também aponta demora há algumas semanas para o procedimento. Falta de previsão e solução que prejudica o paciente.
Como funciona o contrato com o município
Por meio de nota, a diretora de Atenção Especializada Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Caroline Hoffmann, destaca que, com relação às cirurgias, município e Santa Casa firmaram, neste ano, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público para a realização de 500 procedimentos represados e, assim, dar celeridade às novas solicitações. Segundo ela, todos os ajustes legais para iniciar o atendimento da fila de espera já estão devidamente assinados pelas partes e com adiantamento financeiro feito pela SMS ao hospital. A prefeitura afirma que, a previsão da Santa Casa é de que as cirurgias comecem a ser feitas nos próximos dias.
No que se refere a exames represados, a diretora afirma que o número de pacientes aguardando contabiliza outras especialidades, como oncologia, neurologia e ortopedia, que utilizam os resultados para chegar a um diagnóstico e tratamento. Conforme Caroline, o desabastecimento de insumos para testes de imagem que utilizam contraste é verificado em todo o mundo e também influencia a fila de espera em Pelotas. A prefeitura afirma estar atuando com o programa Saúde Ativa para agilizar o atendimento, com o aporte de recursos municipais para complementar os valores da tabela do SUS. A SMS argumenta que, no primeiro quadrimestre de 2022, a fila para ressonância e tomografias esteve zerada, mas com a necessidade de racionalização de contraste a espera voltou a crescer. Não há previsão de que a situação seja normalizada por enquanto.
Quanto às consultas, Caroline explica que o município tem 360 contratualizadas com a Santa Casa, 12 com o Hospital Universitário São Francisco de Paula e quatro com o Hospital Escola. A diretora diz que, devido à necessidade das cirurgias, que, em geral, são de maior risco, a Santa Casa não tem ofertado a totalidade contratada, mantendo uma média de 80 consultas por mês. Ela informou que conforme o atendimento à fila de espera para as cirurgias represadas for normalizado, o município irá cobrar do hospital a disponibilização de mais consultas de traumatologia.
Conselho de Saúde de olho
Para esta semana, o Conselho Municipal da Saúde (CMS) e a prefeitura preveem uma reunião e entre os assuntos deverão estar os leitos de retaguarda e os atrasos e desmarques de procedimentos operatórios. Segundo o presidente César Lima, o Conselho está atento à situação da Santa Casa.
E o que diz a Santa Casa
Procurada pela reportagem para se manifestar sobre os atrasos, qual a prioridade dada na hora de decidir os procedimentos, quantas cirurgias e consultas são contratualizadas e quantas prestadas via SUS, a instituição respondeu através de uma breve nota. O hospital citar as fontes dos problemas financeiros e assegura que o problema será resolvido em breve.
"Esses problemas são oriundos da situação financeira que hospitais filantrópicos enfrentam. Isso não é mais novidade pra ninguém: tabela SUS defasada e atraso nos repasses. Sobre os procedimentos cirúrgicos da traumatologia, a partir de segunda (21), o cronograma volta ao normal, resolvendo o problema da fila ocasionado por falta de próteses e órteses", diz o texto.
Falta de itens de higiene
Motivo de reportagem do DP publicada no fim de outubro após denúncias do Sindisaúde, a falta de itens de higiene como papel higiênico também se mantém como uma dificuldade enfrentada pelos pacientes. Um dos familiares ouvidos pelo Jornal afirma precisar levar de casa o material. Como resposta a este questionamento, a Santa Casa alega já ter falado sobre o tema na reportagem anterior. Naquele momento, o hospital citou como motivo o fato de a maior parte dos recursos para essas despesas ser originado de repasses do SUS, cuja tabela está defasada.
A demanda reprimida em Pelotas
De acordo a SMS, a fila de espera para consultas, cirurgias e exames que envolvem a traumatologia é a seguinte:
- Consultas: 4.259
- Cirurgias: 550
- Exames
> Tomografias - 2.471
> Ressonância - 688
> Ultrassom de articulação - 104
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